O início de 2016 prometia uma época recheada de emoções no WTCC. O anúncio da partida da Citroën, a chegada da Volvo ao campeonato e as trocas entre pilotos, fizeram aumentar ainda mais o grau de interesse pelo mundial de turismos.
A Citroën despede-se este ano da competição. Depois de ter arrasado a concorrência com um orçamento gigante e um carro ”à prova de bala”, a equipa francesa aborreceu-se de vencer com tanta facilidade e decidiu terminar com o projecto que chegou a ter 4 carros oficiais em 2015. O chinês Ma era claramente carta fora do baralho mas a dispensa de Loeb foi uma das grandes surpresas (para os fãs e para o piloto). Assim a equipa ficou apenas com o bi-campeão José Maria Lopez e o tetra-campeão Yvan Muller.
A Honda aumentou a aposta na equipa, operando uma revisão completa no Civic TC1 ao nível técnico e mudando os pilotos, o que levou Huff a entrar na equipa vindo da Lada. A juntar-se ao inglês tínhamos Michelisz, vindo da equipa privada Zengo (embora o piloto já estivesse incluído na estrutura da equipa Honda) e Monteiro que permaneceu na “sua” Honda.
Na Lada, a saída de Huff abriu as portas ao dispensado da Honda. Tarquini foi recebido de braços abertos pela equipa russa, que a juntar ao italiano manteve Catsburg e foi buscar Hugo Valente, ex-piloto da Campos Racing.
Estas foram as grandes mudanças no WTCC mas não foram as únicas, pois Chilton abandonou a ROAL Motorsport para se juntar à mais competitiva Sebastien Loeb Racing (equipa privada mas com fortes ligações à Citroen) onde encontrou Bennani, que transitou do ano passado e Demoustier que foi escolhido para o 3º carro da equipa. Ferenc Ficza foi o escolhido para substituir Michelisz na Zengo, fazendo a sua estreia no WTCC.
Por fim tínhamos a entrada em cena da Volvo, pela sua divisão de competição Polestar, estreando o novíssimo S60 TC1, comandado pelos pilotos Thed Bjork e Fredrik Ekblom, ambos várias vezes campeões no STCC e com larga experiência em competições de turismo.
A juntar a estas mudanças, tínhamos também o aumento do lastro máximo de 60 para 80kg (lastro é colocado nos carros mais rápidos de forma a equilibrar as corridas, tornando os carros mais rápidos alcançáveis aos mais lentos), a corrida 1 passou a ter o grid invertido (os 10 primeiros são colocados pela ordem inversa que foi obtida na qualificação) ao contrário do ano passado, em que isso acontecia na corrida 2, e a introdução do MAC3, um conceito inovador que tem como objectivo colocar os carros das equipas oficiais a rodar em conjunto, permitindo às equipas que cumprem os requisitos mínimos pontuarem no campeonato de construtores.
Esta nova fórmula foi estreada no Circuito Paul Ricard, em França, e a tendência do campeonato ficou logo definida… Os Citroën continuavam a máquina mais rápida do WTCC (a pole de Lopez comprovou isso) mas o Civic apresentava argumentos para responder à altura, com uma vitória para Lopez e outra para Huff numa estreia de sonho do britânico pela Honda. Monteiro era o mais regular dos 3 Honda e assumia-se desde início como principal ameaça à liderança de Lopez. No troféu dos privados (Troféu Yokohama) Bennani dominava em toda a linha, assumindo a primeira posição do campeonato.
A segunda ronda na Eslováquia foi também muito disputada, com excelentes corridas, tal como em França, mas nem o lastro de 80 kg atribuído aos Citroen desde a primeira ronda atrasava os franceses, que conquistaram nova pole por intermédio de Yvan Muller. Na primeira corrida foi Monteiro a vencer tornando-se cada vez mais a maior ameaça a Lopez que, no entanto, respondeu com uma corrida espantosa, mesmo com vários problemas no seu C-Elysée, conquistando a vitória de forma heróica. No Troféu Yokohama era novamente Bennani que se evidenciava em relação a toda a concorrência interna e externa.
Hungria recebia a 3ª ronda do mundial e depois da trégua na Eslováquia, a chuva voltava a aparecer, sem ser convidada, nas corridas de domingo. No sábado quem voltou a brilhar foi Lopez, conquistando a 2ª pole da época. A corrida de Abertura foi de loucos com a chuva a baralhar completamente as contas das equipas, com vários pilotos a arriscarem usar os pneus para piso seco, quando a pista estava completamente molhada. A vitória sorriu a Bennani que jogou pelo seguro e usou pneus de chuva. Na corrida Principal foi Lopez a vencer, cimentando a sua liderança mas sempre com Monteiro por perto. Nos privados com a vitória na corrida Bennani era rei e senhor deste campeonato.
A chuva voltou a ser o elemento comum nas corridas do WTCC em Marrocos, para a 4ª jornada do WTCC. Em qualificação foi Huff o mais rápido o que confirmava a superioridade dos Honda neste traçado. A corrida de Abertura, novamente com piso molhado, foi vencida por Coronel que se defendeu impecavelmente dos ataques de Lopez, em mais uma prova emocionante e com desfecho incerto. Na corrida Principal, Huff capitalizou a pole conquistada no dia anterior, numa corrida completamente dominada pela Honda, que preencheu o pódio por completo. Nos privados Coronel dividiu os louros com Bennani.
Antes da prova que decorreu em solo alemão surgiu a notícia que abalou o campeonato… A Honda foi investigada por estar a usar uma parte que não respeitava os regulamentos. A JAS achou que poderia contornar as regras (que dizem que o lastro tem de ser colocado no lado do passageiro), colocando parte do lastro como regulamentado e o restante no fundo plano para tornar o carro mais equilibrado. A FIA não concordou com a decisão da JAS / Honda e penalizou a equipa nas corridas da Hungria e de Marrocos, mas o recurso interposto diminuiu a pena, sendo que os homens da marca nipónica foram apenas excluídos da ronda marroquina. Um golpe duro nas aspirações da equipa e de Monteiro que se viu assim a distância para Lopez aumentar.
Mas os problemas do português não iriam ficar por ai. No fim-de-semana em que se ficou a conhecer esta decisão, a caravana do WTCC estacionava em Nurburgring – Nordshleife. A pole ficou novamente entregue a Pechito Lopez, que tratou de bater o recorde de pista para o WTCC. Monteiro partia de 1º lugar para a corrida Principal e manteve-se na liderança da prova até perto do final, mas um furo atirou o piloto para fora de pista com violência, levando consigo Muller, o que entregou a vitória Lopez que repetiu a façanha na corrida Principal, aumentando para mais de 100 pontos a vantagem para Monteiro (depois da revisão de pontos) , que caiu para 3º lugar atrás de Bennani.
A última ronda, antes da muito esperada prova portuguesa, foi na Rússia. Uma prova que, tal como a maioria das outras, foi disputada debaixo de chuva o que trouxe grandes surpresas. A primeira foi no sábado em que Nick Catsburg conquistou a primeira pole da sua carreira no WTCC, numa tarde completamente dominada pela Lada. O domínio da equipa russa continuou no domingo, aproveitando da melhor forma o asfalto molhado para arrecadar as vitória na corrida de Abertura, por intermédio de Tarquini, (Monteiro largou da pole mas não conseguiu ter a afinação ideal para lutar contra os Lada) e por Catsburg na corrida Principal, finalizando em beleza um fim de semana espectacular para a equipa e para os fãs russos.
Destaques:
Citroën: Mesmo tendo competido desde início de época com o lastro máximo, o que afecta a performance, os franceses e especialmente Lopez, têm sido novamente muito fortes. Pechito tem sido o piloto mais forte do grid, justificando o título de campeão, sendo o líder de forma merecida. Muller tem estado abaixo do que era expectável e está muito longe da discussão pelo titulo.
Honda: A equipa prometeu apresentar-se mais forte e cumpriu. Não é ainda o suficiente para destronar a Citroën mas com os lastros aplicados às equipas a desigualdade de andamentos fica disfarçada tendo proporcionado excelentes corridas. No entanto a penalização aplicada e a ronda alemã prejudicou as aspirações de Monteiro na luta pelo titulo. O português promete não baixar os braços e lutar por vitórias algo que pode pois os Citroen já mostraram que não são imbatíveis.
Lada: Os russos têm mostrado algum potencial e a qualidade dos seus pilotos tem sido um trunfo, especialmente Catsburg, o melhor piloto da equipa russa até agora. Tarquini acrescentou experiência e Valente tem alternado entre o bom e o muito mau, envolvendo-se em toques desnecessários que o tem prejudicado a si e à sua equipa.
Volvo: Ao contrário do início fulgurante da Citroën, a Volvo está a fazer uma estreia típica de quem começa um projecto, alternando prestações positivas com resultados negativos. Esperava-se um pouco mais da equipa mas talvez a Citroen tenha colocado a fasquia demasiado alta para estabelecer um termo de comparação. O carro tem potencial, os pilotos têm qualidade mas o conjunto precisa de tempo para evoluir e apresentar melhores resultados.
Privados: Bennani é até agora o mais forte do Troféu WTCC, beneficiando da maior experiência com o carro. Começa agora a ter mais concorrência interna, com Chilton a ficar cada vez mais ambientado à maquina e à equipa. Coronel está em 3º do campeonato de privados mas não tem os mesmos meios que os seus adversários possuem. Tem feito um campeonato positivo até agora e poderá surpreender novamente. Ficza é o estreante e apresentou-se muito bem na Rússia. A Zengo tem um conjunto muito jovem, que precisa de ganhar experiência mas o potencial que o piloto mostrou promete. Daniel Nagy é também piloto inscrito pela Zengo mas a equipa ainda não recebeu o motor para equipar o 2º Honda Civic, estando essa estreia prevista para Vila Real. A Nika Racing ainda não se estreou no campeonato devido a dificuldades financeiras que impediram John Bryant-Meisner de se estrear neste campeonato.
Fábio Mendes
Chicane Motores para o CIVR