Não há fumo sem fogo e os rumores têm ganhado uma dimensão cada vez mais considerável. O WTCC está numa fase complicada e precisa de rever o seu rumo o mais depressa possível, correndo o risco de ser completamente abafado pelo TCR series. Os promotores da competição sabem disso e estão a tentar arranjar uma resposta. A solução veiculada nos media nos últimos dias dizem que a Eurosport quer aproveitar os regulamentos da Class One de turismos, acordada entre o DTM e os Super GT japoneses para revitalizar o WTCC.
A ideia da Class one era muito simples: consistia numa uniformização dos regulamentos técnicos do DTM, o espectacular campeonato de turismos alemão e os Super GT Japoneses. Na sua génese, os dois campeonatos são muito semelhantes; Os chassis são praticamente iguais mas os motores são já peças bem diferentes, com os DTM a serem equipado com motores V8 de 4L e os SuperGT equipados com motores bi-turbo, de 4 cilindros com 2L de capacidade.
O DTM sempre foi um campeonato tipicamente germânico e foram raras as marcas de fora da Alemanha que deram o passo para a categoria (o exemplo que salta à memoria são os imponentes Alfa Romeu 155). Neste momento é um campeonato constituído por apenas 3 marcas (Audi, BMW e Mercedes), cuja competitividade continua a ser a palavra de ordem mas que já não consegue dar tanto espectáculo como antigamente. Nos Super GT acontece um pouco o mesmo, pois apenas 3 marcas nipónicas militam na categoria máxima (Nissan, Honda e Lexus). A ideia de combinar os dois campeonatos segundo o mesmo conjunto de regulamentos poderia dar origem a um verdadeiro campeonato do mundo de turismos, com marcas de vários países e um calendário mais global.
O problema esteve no mercado norte-americano nunca viu com bons olhos este campeonato (nenhuma marca mostrou interesse), estando agora a apostar em força nos GT3 com o Pirelli World Challenge e as alterações aos regulamentos do IMSA com a entrada dos LMP2 e o abandono dos Protótipos, que foram usados até este ano. Os japoneses também mostraram-se indecisos, olhando para os GT3 como uma opção mais viável.
Assim, com este impasse a regulamentação Class One não passou de uma boa ideia que não avançou e que se encontra guardada na gaveta. É pelos vistos esta ideia que o WTCC quer reavivar, pegando nos regulamentos e aplicando-os ao mundial de turismos, esquecendo a classe TC1 (a actual regulamentação termina no próximo ano) cujo sucesso é discutível e apenas atraiu 4 marcas: Honda, Lada, Citroen e Volvo.
Para já nem a FIA nem a Eurosport adianta o que quer que seja. Houve uma proposta apresentada às marcas mas sobre a proposta e a resposta das marcas nem uma palavra.
Para a FIA e a Eurosport seria um excelente golpe de asa. O WTCC precisa como de pão para a boca de novas marcas para relançar o campeonato e a FIA quer que o seu campeonato do mundo de turismos seja espectacular e atractivo.
O grande problema está nos custos. Uma época actual do WTCC custa à volta de 1 milhão de euros (apenas o motor custa 250 mil euros por ano) e têm sido vários os pilotos a sentirem dificuldades para arranjarem o financiamento e embora a ideia da Class one seja uma espécie de DTM mais barata, com um motor mais pequeno (a regulamentação prevê um 4 Cilindros 2.0L turbinado , um pouco à semelhança do WTCC que usa um bloco mais pequeno) é difícil de ver como a competição poderá ser mais barata que a regulamentação actual.
A Eurosport tinha como objectivo cortar em 200mil euros os custos do WTCC para 2018 de forma a atrair mais interessados mas com esta ideia vai tornar-se difícil. Apenas com o forte apoio das marcas é que este plano faz sentido, pois apenas estruturas fortes poderão ter capacidade de colocar em pista máquinas deste calibre. E se já há várias marcas com a base preparada para o fazer (o caso das marcas do DTM e Super GT) outras como a Volvo, a Lada e a Citroen teriam de fazer tudo desde início, o que significaria quase pela certa a saída da marca francesa e da marca russa… E a Volvo teria de repensar tudo apenas 2 anos depois de ter entrado na competição, o que não é nada agradável. Mesmo a Audi não está certa se continuará com o seu programa de turismos e a BMW está a preparar a entrada no WEC o que poderá determinar um desinvestimento nos turismos.
E há outro aspecto importante: o WTCC em formato Class one pode acabar com um dos factores que tornou o WTCC único e interessante… os pilotos privados. Muito dificilmente uma estrutura privada com a dimensão das equipas que agora estão no WTCC terá capacidade para enfrentar uma revolução deste género.
O WTCC atravessa uma fase decisiva (um entroncamento sem fim, como se diz por aí). Se não mudar os regulamentos será engolido pelo TCR, se mudar pode correr o risco de dar um passo atrás, não ter marcas interessadas no novo formato e perder os privados. A Class one pode ser a solução mas depende muito dos custos e do formato. É um passo arriscado que poderá significar uma volta de 360 graus… E para ficar como está não vale a pena gastar dinheiro.
Fontes: Spormotores
Touringcartimes.com
Fábio Mendes
Chicane Motores para o CIVR