Um piloto é um “animal” diferente. É alguém que gosta de desafios, de ultrapassar os seus limites, de viver a vida a velocidades que outros temem. E em Vila Real os pilotos têm de se superar ainda mais, dada a especificidade da pista e a rapidez com que as coisas acontecem.
Mas no fim-de-semana de 24 e 25 de Junho haverá um piloto que terá uma tarefa ainda mais desafiante. Manuel Pedro Fernandes irá estrear-se no mundial de turismos, numa das pistas mais difíceis do calendário. Em dois dias, terá de se adaptar a um novo campeonato, com pilotos diferentes e acima de tudo a uma nova máquina… o Lada Vesta TC1.
No ano passado Fernandes teve um fim de semana de sonho ao volante de um Seat Leon Cup Racer TCR , uma máquina idêntica que usa este ano no TCR Ibérico. Mas um carro diferente do que terá em mãos no próximo fim-de-semana.
Qual a diferença entre os dois?
O Seat Leon TCR usa um motor de 4 cilindros em linha, de 2 litros, turbinado, com uma potência de 350 cv (com as novas actualizações), para um peso de 1165kg, sem lastro. É uma máquina de tracção dianteira e com caixa sequencial de 6 velocidades, podendo atingir velocidades na ordem dos 250 km/h.
O Lada Vesta é equipado com um motor 1.6 turbinado, que debita acima dos 380 cv, para um peso de 1100kg, sem lastro (os dados exactos não são divulgados). Tem também tracção dianteira e caixa de 6 velocidades sequencial, com velocidade máxima acima dos 260 Km/h. No papel as diferenças podem não ser óbvias mas na prática são bastantes. O Kit aerodinâmico dos TC1 é mais evoluído que o dos TCR, o que lhes permite curvar com velocidades superiores. E depois há a questão das travagens em que os TC1 permitem que o piloto trave mais tarde.
Manuel Pedro Fernandes teve essa experiência em 2015 quando testou um Chevrolet Cruze em Paul Ricard. Naquela altura o piloto deu-nos as seguintes impressões:
“Achei que o carro andasse mais, sinceramente, pois ao nível da potência e da velocidade não me surpreendeu, mas nas travagens e nas curvas é realmente excelente. Era um carro que ia requerer trabalho da minha parte, pois não é fácil de conduzir. É muito complicado nas travagens, pois é preciso aplicar muita força no pedal do travão, para além de termos de confiar muito no apoio aerodinâmico do carro.”
Como se pode ver, a grande vantagem dos TC1, são a maior potência aliada a um peso mínimo mais reduzido, mas acima disso, a aerodinâmica do carro que lhe permite ser mais rápido que os TCR.
Em 2016, o tempo mais rápido obtido no ETCC em qualificação na pista de Vila Real foi de 2:05:013 enquanto o tempo mais rápido no WTCC foi de 1:56:633 (diferença de mais de 8 segundos). Em Nurburgring , este ano, o tempo da pole no ETCC foi de 9:14:391 e no WTCC foi de 8:38.072.
São diferenças grandes estas que distinguem os ETCC dos WTCC. E é este o tamanho do desafio de Manuel Fernandes… Adaptar-se a um carro mais rápido, com tempos de travagens menores e com um nível de apoio aerodinâmico superior. Terá de sair da sua zona de conforto e aprender a travar mais tarde e a confiar no carro nas curvas rápidas para poder ser competitivo… isto em apenas 2 dias, num traçado que, embora conheça como a palma das mãos, é exigente e acima de tudo muito rápido. Vai ser preciso talento, capacidade de aprender depressa e bem e … coragem! Mas com o apoio dos fãs da sua cidade que vão puxar por ele durante os dois dias, a motivação do piloto será suficiente para superar as dificuldades.
Fábio Mendes
Chicane Motores / Purple Profile – New Media Agency